domingo, 25 de janeiro de 2015

Psicanálise e Pediatria



DOLTO, Françoise. Psicanálise e Pediatria. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988. 260 p. Título original:Psychanalyse et Pédeatrie – Les grandes notions de la psychanalyse Seize observations d’enfants.

            Françoise Dolto foi uma terapeuta parisiense nascida em 1908 e faleceu em 1988. Quando criança destacava-se pela inteligência, imaginação e ideias. Tinha ampla capacidade de raciocinar o que lhe custou a incompreensão familiar acompanhada de sérias dificuldades no relacionamento com a mãe, o que superou somente na idade adulta após submeter-se a tratamento analítico com René Laforgue. Foi pioneira em psicanálise de criança desenvolvendo importante experiência clínica, sendo reconhecida em seu trabalho. Sua obra e pesquisa tem reconhecimento internacional.
Na introdução do livro Psicanálise e Pediatria, Françoise Dolto analisa Freud como pesquisador e médico, reconhecendo o valor da técnica terapêutica criada por ele, a psicanálise, que abriu conforme palavras da autora, novos rumos de estudos ao historiador, ao sociólogo e ao psicólogo. Para ilustrar relembra o caso da menina Josette de três anos, em estado físico debilitado e acompanhado de crises de nervos. Após o médico avaliar a rotina da menina e sua família, descobriu que tudo começou quando os pais tentaram tirá-la do quarto do casal para ter o seu próprio. Após ser conduzida a um terapeuta que analisando o caso descobriu a causa da problemática e o pai esclarecendo a menina sobre o objetivo da mudança oferecendo a ela uma compensação afetiva em clima de amor, tudo se resolveu. A autora lembra que é a Psicanálise que consegue estabelecer a universalidade dos conflitos durante a vida humana.
Nos três primeiros capítulos da primeira parte do livro, Dolto faz exposição teórica. Primeiramente  apresenta a nomenclatura psicanalítica; em seguida trabalha sobre as fases da infância e puberdade com a influência de cada uma na vida adulta e finalmente analisa o Complexo de Édipo e a Angústia de Castração. Nesse último item apresenta o comportamento e sentimento tanto das meninas quanto dos meninos e as soluções inconscientemente engendradas por ambos para viverem bem os primeiros anos de vida, vivências essas que influenciarão em suas relações afetivas na idade adulta.
A autora dedica um capítulo à Enurese esclarecendo que após estudar o comportamento afetivo da criança, o terapeuta consegui avaliar em que fase ela se encontra e diante de quais obstáculos ela regrediu. Concluiu com as reflexões de que a enurese se dá como resultado da não resolução do Complexo de Édipo.
No quinto capítulo Dolto analisa a Angústia de Morte e a Angústia de Castração. Afirma que o temor da morte é fato natural, porém a angústia de morte se estabelece quando a criança tem em si recalques devido às elaborações do Superego no Complexo de Castração.
Na segunda parte do livro, a autora inicia trabalhando no capítulo seis o método psicanalítico; aborda a técnica de trabalho do terapeuta psicanalítico assim como outras técnicas psicoterápicas e cita alguns casos exemplificando a proposta analítica. 
A partir desses casos analisa a atuação dos pais, da criança em tratamento e do psicanalista. Salienta sobre a importância da “transferência” para que o terapeuta estudando o seu paciente nas reações afetivas deste para com ele, consiga estabelecer o diagnóstico e a terapêutica que melhor atenderá ao caso. A autora afirma que a psicanálise permite ao terapeuta compreender a lógica do comportamento dos indivíduos quer sejam psicóticos, neuróticos ou sãos, de acordo  com os mecanismos destes e seus comportamentos face ao psicanalista. Segundo Dolto, “a psicanálise não torna os indivíduos mais sãos do que eram antes do tratamento, mas coloca-os no caminho adequado para que venham a ser mais sãos após o tratamento”. Fala da possibilidade de cessar o tratamento quando há segurança de que no analisado tenha desaparecido os seus sintomas e que seus mecanismos inconscientes o permita viver em paz.
Dolto ressalta o papel educativo do psicanalista, afirma que sua análise deve ser isenta de pontos de vista morais ou culturais não devendo formular qualquer juízo de valor. Seu papel é discriminar os elementos de pulsões e contrapulsões que estão na base das reações de seu paciente.
No sétimo e último capítulo são apresentados desenhos, sonhos e relatos de tratamentos de algumas crianças; todas com dificuldades no relacionamento familiar, escolar e social. A origem dos conflitos de acordo com a autora, está na resolução do Complexo de Édipo que é inevitável no transcorrer do desenvolvimento humano individual.


 Obs.: Obra estudada no curso Terapia Lumni com as terapeutas Carmem Farage e Bárbara Bastos.

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