DOLTO, Françoise. Psicanálise e Pediatria.
Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988. 260 p. Título
original:Psychanalyse et Pédeatrie – Les grandes notions de la psychanalyse
Seize observations d’enfants.
Françoise
Dolto foi uma terapeuta parisiense nascida em 1908 e faleceu em 1988. Quando
criança destacava-se pela inteligência, imaginação e ideias. Tinha ampla
capacidade de raciocinar o que lhe custou a incompreensão familiar acompanhada
de sérias dificuldades no relacionamento com a mãe, o que superou somente na
idade adulta após submeter-se a tratamento analítico com René Laforgue. Foi
pioneira em psicanálise de criança desenvolvendo importante experiência
clínica, sendo reconhecida em seu trabalho. Sua obra e pesquisa tem
reconhecimento internacional.
Na introdução do livro Psicanálise e
Pediatria, Françoise Dolto analisa Freud como pesquisador e médico,
reconhecendo o valor da técnica terapêutica criada por ele, a psicanálise, que
abriu conforme palavras da autora, novos rumos de estudos ao historiador, ao
sociólogo e ao psicólogo. Para ilustrar relembra o caso da menina Josette de
três anos, em estado físico debilitado e acompanhado de crises de nervos. Após
o médico avaliar a rotina da menina e sua família, descobriu que tudo começou
quando os pais tentaram tirá-la do quarto do casal para ter o seu próprio. Após
ser conduzida a um terapeuta que analisando o caso descobriu a causa da
problemática e o pai esclarecendo a menina sobre o objetivo da mudança
oferecendo a ela uma compensação afetiva em clima de amor, tudo se resolveu. A
autora lembra que é a Psicanálise que consegue estabelecer a universalidade dos
conflitos durante a vida humana.
Nos três primeiros capítulos da primeira
parte do livro, Dolto faz exposição teórica. Primeiramente apresenta a nomenclatura psicanalítica; em
seguida trabalha sobre as fases da infância e puberdade com a influência de
cada uma na vida adulta e finalmente analisa o Complexo de Édipo e a Angústia
de Castração. Nesse último item apresenta o comportamento e sentimento tanto
das meninas quanto dos meninos e as soluções inconscientemente engendradas por
ambos para viverem bem os primeiros anos de vida, vivências essas que
influenciarão em suas relações afetivas na idade adulta.
A autora dedica um capítulo à Enurese
esclarecendo que após estudar o comportamento afetivo da criança, o terapeuta
consegui avaliar em que fase ela se encontra e diante de quais obstáculos ela
regrediu. Concluiu com as reflexões de que a enurese se dá como resultado da
não resolução do Complexo de Édipo.
No quinto capítulo Dolto analisa a Angústia
de Morte e a Angústia de Castração. Afirma que o temor da morte é fato natural,
porém a angústia de morte se estabelece quando a criança tem em si recalques
devido às elaborações do Superego no Complexo de Castração.
Na segunda parte do livro, a autora inicia
trabalhando no capítulo seis o método psicanalítico; aborda a técnica de
trabalho do terapeuta psicanalítico assim como outras técnicas psicoterápicas e
cita alguns casos exemplificando a proposta analítica.
A partir desses casos analisa a atuação dos
pais, da criança em tratamento e do psicanalista. Salienta sobre a importância
da “transferência” para que o terapeuta estudando o seu paciente nas reações
afetivas deste para com ele, consiga estabelecer o diagnóstico e a terapêutica
que melhor atenderá ao caso. A autora afirma que a psicanálise permite ao
terapeuta compreender a lógica do comportamento dos indivíduos quer sejam
psicóticos, neuróticos ou sãos, de acordo com os mecanismos destes e seus comportamentos
face ao psicanalista. Segundo Dolto, “a psicanálise não torna os indivíduos
mais sãos do que eram antes do tratamento, mas coloca-os no caminho adequado
para que venham a ser mais sãos após o tratamento”. Fala da possibilidade de
cessar o tratamento quando há segurança de que no analisado tenha desaparecido
os seus sintomas e que seus mecanismos inconscientes o permita viver em paz.
Dolto ressalta o papel educativo do
psicanalista, afirma que sua análise deve ser isenta de pontos de vista morais
ou culturais não devendo formular qualquer juízo de valor. Seu papel é
discriminar os elementos de pulsões e contrapulsões que estão na base das
reações de seu paciente.
No sétimo e último capítulo são apresentados
desenhos, sonhos e relatos de tratamentos de algumas crianças; todas com
dificuldades no relacionamento familiar, escolar e social. A origem dos
conflitos de acordo com a autora, está na resolução do Complexo de Édipo que é
inevitável no transcorrer do desenvolvimento humano individual.
Obs.: Obra estudada no curso Terapia Lumni com as terapeutas Carmem Farage e Bárbara Bastos.
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