FREIRE, Gilson. Ícaro Redimido. Brasil:
Inede, 2013. 10ª ed.
Gilson
Freire é de Belo Horizonte e atuante no movimento espírita. Como médium
escreveu alguns livros por inspiração como é o caso deste. Outros são produtos
de suas pesquisas na área da saúde. Em Ícaro Redivivo foi inspirado pelo
espírito denominado Adamastor desencarnado no século dezenove. Atualmente,
Adamastor é trabalhador da colônia espiritual Portais do Vale e nos relata a
história de Alberto Santos Dumont após seu desencarne.
Gilson
nos apresenta uma história com relatos minuciosos através de quarenta
capítulos, um glossário uma vez que faz uso de certas expressões médica nada
comum ao nosso cotidiano e muitas dessas expressões são de origem espiritual e
conclui com mensagem de Santos Dumont de julho de 1948 através do médium
Francisco Cândido Xavier em Pedro Leopoldo.
Adamastor ou Gilson nos relata a história
apresentando um reduzido número de trabalhadores no atendimento a Santos Dumont
que são: Heitor, o espírito responsável pelo atendimento ao nosso personagem, o
atendente Adamastor que sob as orientações de Heitor responsabiliza-se pelo
socorro a Alberto, Adelaide, espírito em aprendizagem que é convidada a
estagiar através do resgate e tratamento
de Alberto e Fausto atendente do Departamento de Embrioterapia. Os demais trabalhadores dos departamentos
visitados e mencionados por Adamastor não foram destacados.
A história acontece em uma cidade do mundo
espiritual denominada Portais do Vale, extremamente próxima ao Vale dos suicidas,
local onde se reúnem espíritos que desencarnaram pela porta do suicídio. Para
Portais do Vale são encaminhados alguns tipos de suicidas para trabalho de
recuperação espiritual.
Certo dia Heitor apresenta-se a Adamastor com
a incumbência de resgatar Alberto que havia alguns anos dormia nas Cavernas do
Sono no Vale dos Suicidas após deixar a vida terrena através de enforcamento do
corpo físico. Fizera Alberto uma singela prece a Maria Mãe Santíssima em poucos
murmúrios; foi o bastante para providenciarem seu resgate. Ele vivia um sono
reparador, com atividade consciencial extremamente baixa e que ao acordar
necessitava de atendimento imediato para evitar que diante da amarga realidade
que trazia, adentrasse a camadas ainda mais profundas de sua intimidade
espiritual entrando em estado de ovoidização. Essa é uma doença que acomete
espíritos de baixa elevação espiritual em função de pensamentos fixos de ódio e
vingança como também outras possibilidades, perdendo a capacidade de pensar
continuamente; assim o períspirito perde a forma humana tornando-se semelhante
a um ovo. Uma vez nessa condição recuperar-se é somente através de várias
reencarnações expiatórias.
Os cinco primeiros capítulos foram para
narrar detalhadamente o resgate de Santos Dumont das Cavernas do Sono.
A partir do sexto capítulo é dado início a
tratamento rigoroso através de passes magnéticos, medicamentos a base de
homeopatia para o refazimento espiritual de Alberto. Segundo Heitor, fator que
muito dificultou no restabelecimento de nosso personagem, foi a ausência de um
sentimento de religiosidade através de fé sincera se tivesse sido cultivada
pelo mesmo.
Alberto apresenta-se sem memória e de acordo
com o autor isso se intensificou devido ao suicídio que por ser uma forma brusca
de retornar ao mundo espiritual não permite ao espírito realizar a revivência mnemônica, que é a
retrospectiva que as criaturas fazem ao desencarnar revendo as experiências da
reencarnação que findou. Essa revivência é de fundamental importância para
sedimentar os conhecimentos adquiridos na reencarnação reedificando o psiquismo
para dar continuidade à sua vida na erraticidade e na reencarnação futura.
A intimidade espiritual de Alberto não trazia
essas lembranças fixadas para que ele continuasse sua caminhada evolutiva.
Um dos primeiros setores para onde conduziram
Alberto foi o Departamento de Embriologia onde seria encaminhado para
reencarnação. Somente através do contato com a matéria conseguiria receber os
impulsos criadores da forma humana somado ao fluido vital, isso o auxiliaria no
processo de recomposição da forma perispiritual e psíquica.
Adamastor conduz Adelaide ao departamento
citado dando-lhe uma aula sobre as variadas condições de um ovoide sob vários
aspectos. Os que ali se encontravam internados estavam em vias de reencarnar
objetivando recuperação. “Após vários
ensaios reencarnatórios malsucedidos, o ovoide pode se recuperar e refazer seu
molde perispiritual na conformação humana” esclareceu Adamastor. Entendemos
que esse é um, entre vários esclarecimentos sobre nascimento de seres com
deformidades e que a medicina terrena não apresenta explicação.
A partir do capítulo nove começam a surgir
outros espíritos vinculados à história de Santos Dumont, espíritos esses
comprometidos com nosso personagem já de antigas épocas e que organizados por
Heitor vão novamente entrando em sua história com o propósito de refazerem
assuntos que deixaram pendentes em reencarnações anteriores, mas também
auxiliar no seu tratamento.
O primeiro espírito a ser chamado para
resgate é Catherine, cortesã de origem francesa, residente no Brasil e que
mantinha uma casa de prostituição arregimentando e explorando jovens no
comércio do sexo. Devido à ambiência espiritual da casa, Heitor teve
dificuldade para fazer contato com a mulher dada as vibrações ao seu redor e a
quantidade de espíritos viciados no sexo e orgia que habitavam seu quarto aguardando
as movimentações noturnas. Somente usando de suas induções mentais conseguiu
inibir os pensamentos libertinos de Catherine fazendo-lhe lembrar-se do saudoso
pai e imediatamente suas artérias temporais se dilataram dando início a uma
terrível crise de enxaqueca impedindo-lhe as atividades noturnas e causando o
afastamento das criaturas espirituais libertinas que lhe aguardavam a companhia
para os regalos da noite. Durante o sono físico Heitor apresenta-se para
Catherine, transvestido da figura de seu pai e com ela tem atencioso diálogo
paternal, mas apresentando-lhe a necessidade de mudanças e para isso propõe-lhe
a possibilidade de ser mãe. Envolvida nesse clima espiritual e familiar
Catherine aceita e naquela noite através de delicada operação magnética Alberto
é colocado na cavidade uterina da cortesã onde ficaria absorvendo-lhe as
energias maternas e aguardando o momento propício para a fecundação.
Adelaide naquela fase de sua vida estava
tendo um relacionamento mais íntimo e um tanto quanto afetivo com um jovem
chamado Abelardo que ao tomar conhecimento da gravidez da mulher abandonou-lhe
à própria sorte. Os primeiros meses se passaram e Catherine sem forças para
manter a gravidez sozinha em meio à vida que mantinha optou por abortar.
Adamastor narra os pormenores da cena
abortiva e do ambiente espiritual de baixíssimo nível na casa da mulher que
realizou o ato criminoso. Ali existiam espíritos vampiros que aguardavam as
vítimas para absorver-lhes as energias vitais sustentando-lhes as viciações.
O ato foi consumado com a presença de Heitor,
Adamastor e Adelaide resgatando novamente Alberto daquele ambiente hostil, porém
com renovadas possibilidades de restabelecimento de seu períspirito e psiquismo
embora sua nova vida física não tenha conseguido concretizar-se.
Naquele mesmo dia sem o devido atendimento
médico Catherine faleceu em decorrência de hemorragia. Heitor também a resgatou
conduzindo para localidade do mundo espiritual diferente da de Alberto, mas
Adamastor nada relatou sobre o período de refazimento desse espírito.
Penso ser esse um ponto delicado da história.
Catherine era espírito endividado com as leis divinas pelos equívocos do
pretérito somado aos do presente no que diz respeito às jovens que aliciava
para os desvios do sexo; igualmente comprometida com agrupamento espiritual
desequilibrado e doente nos aspectos da sexualidade que ela alimentava com seu
estilo de vida. Ao desencarnar naquelas condições, Heitor libertando-a das
amarras psíquicas às quais estava comprometida, pareceu-me ação contrária às
regras da espiritualidade que é de amor, mas a cada um segundo suas obras. No
capítulo treze da página cento e treze no segundo parágrafo Adamastor diz: “Catherine não estava preparada para a
reforma sadia de seu destino. Dera asas ao desespero, pois não desejava abandonar
as comodidades e a luxúria sustentadas pelo dinheiro fácil, embora advindo de
tão execrável fonte.”
No capítulo quatorze, página cento e vinte
nove, fim do primeiro parágrafo, Adamastor narra o amparo de Heitor para com
Catherine lembrando um texto evangélico e dizendo que se ela fora protagonista
do escândalo, era porque o escândalo se fazia necessário, porém o autor não
concluiu a fala de Jesus que diz também: “Ai daquele homem por quem o escândalo
vem”.[1]
Retornando a Alberto reingressado ao Departamento
de Embrioterapia, vimos que obtivera êxito com a experiência frustrada de
reencarne que lhe serviu para iniciar a expansão reconstrutora perispiritual.
Adamastor e Adelaide vão encontra-lo com o períspirito rejuvenescido, porém com
a aparência de sua última reencarnação como Alberto Santos Dumont. Deixaram-no
descansar o tempo necessário e lentamente ele foi se assumindo naquele ambiente
que não conhecia, mas que julgava ser uma clínica em Petrópolis e apresentava a
memória parcial relativa aos últimos tempos de sua última reencarnação sem a
consciência de morte. Desejava saber de seus familiares e por qual motivo não
se apresentavam para vê-lo. Acontecia com Alberto algo esperado em seu caso
clínico: amnésia transreencarnatória, ou seja, esquecimento parcial ou completo
das experiências relativas à última reencarnação, isso ocorre a espíritos
desencarnados através de suicídio ou aborto, sendo assim não conseguem executar
a recomposição adequada da memória ao migrarem de um plano para outro.
Iniciariam uma nova fase de tratamento com
Alberto através da recapitulação mnemônica dirigida, ou seja, permitir a ele
reviver o seu passado refazendo as vias de acesso à memória profunda para
recompor a memória somática.
Muito interessante no capítulo 14 a descrição
de memória somática e memória psíquica. A primeira refere-se às funções
cognitivas e emocionais tanto no corpo físico quanto no perispiritual através
de impulsos elétricos retidos pelos neurônios e imprimem magneticamente imagens
e sons. Essa memória é limitada e o espírito a ela tem acesso fácil e diz
respeito ao presente. Já a memória psíquica ou inconsciente nenhuma relação tem
com os neurônios, registra todas as experiências do espírito desde sua criação,
mas não tem acesso a ela facilmente. Ela exerce ação poderosa sobre a memória
somática no corpo físico e no períspirito mantendo a continuidade da vida entre
as reencarnações na escala evolutiva.
Através de variadas sessões de regressão de
memória, seguindo técnica apurada de lembranças de momentos felizes
primeiramente, para somente depois que o espírito apresentar maior
restabelecimento dar vasão às lembranças traumáticas. Dessa maneira Alberto
toma posse de seu passado como projetista e criador de balões e o inesquecível
14 Bis. Lembra-se também de suas frustrações com as concorrências na área
humana, suas decepções com o corpo físico franzino, sua solidão. Assim, passou
ele sua última reencarnação completamente dedicado aos projetos de aviação e na
construção de seus dirigíveis.
À medida que se lembrava do passado,
apresentava alguns aspectos de melhora, mas conservava a melancolia devido à
frustrações. No capítulo dezessete e dezoito Adamastor narra detalhadamente as
lembranças de Alberto relativa aos feitos na pele de Santos Dumont; mas o
espírito não apresentava ainda lucidez plena como também sustentava as
características de orgulho e vaidade com a melancolia como consequência das
decepções vividas. No capítulo dezenove, Adamastor narra a ajuda que vão procurar em Eulália, mulher que trabalhara
servindo Santos Dumont na terra e que assumira compromisso antes de reencarnar
de lhe servir até à velhice, coisa que não foi possível acontecer devido a
morte prematura de nosso inventor. Para isso levaram-no para pequena estadia em
sua casa de Petrópolis sob os cuidados de Eulália. Todo o capítulo vinte e um
são as reflexões de Adamastor e Adelaide sobre a personalidade de Alberto
Santos Dumont, suas fragilidades e dificuldades em relação ao orgulho e vaidade
tão bem vividos na condição humana e que ainda se apresenta agora na
erraticidade. Traçam alguns paralelos entre saúde e doença tendo por base os
conteúdos emocionais das criaturas e analisam as dores humanas.
Já no capítulo vinte e dois eles refletem
sobre a saúde física afirmando que “quaisquer
que sejam as deficiências orgânicas manifestadas na carne, elas são sempre
meros reflexos da queda de potencial das energias espirituais”.
“Quanto
mais o homem encarnado tolerar seus males físicos menos irá padecer os
transtornos de sua mente.”
Afirmam também a necessidade da reforma de
nossos atos e sentimentos ao invés da ingestão de drogas buscando saúde; como
remédio realmente salutar, apontam a evangelização de nossas condutas
moralmente impróprias. Apresentam como recurso terapêutico utilizado naquelas
regiões aos espíritos infelizes e doentes os passes magnéticos, a
musicoterapia, a hidroterapia, as essências florais aspiradas diretamente da
natureza e para casos mais graves a terapia regressiva como a empregada com
Alberto.
No capítulo vinte e três é narrado ao leitor
a revivência de nosso amigo aviador a respeito de sua morte física. Segundo
Adamastor já se fazia necessário que Alberto se lembrasse desse momento trágico
para então se posicionar na colônia como espírito imortal desencarnado. Com a colaboração
de Adelaide que participou ativamente de todos os passos do tratamento, Alberto
foi induzido novamente a sono hipnótico dando início à regressão focando
exclusivamente as últimas horas de sua vida humana na cidade de Guarujá onde
aconteceu o ato do suicídio. Assim ele revive cada minuto de sua morte com as
emoções que lhe envolviam naquele tempo. Foi sofrido e muitas lágrimas sinceras
foram vertidas por aquele espírito nesse momento de tamanha dor. Reconheceu-se
morrendo, pediu ajuda em nome da Mãe Santíssima, reconheceu a infelicidade que
buscou e imediatamente veio-lhe à lembrança os princípios religiosos: Deus,
céu, inferno; julgou-se no purgatório uma vez que não via demônios. Chorou
copiosamente.
Adamastor nos esclarece que os sofrimentos de
Alberto nas desvinculações entre períspirito e corpo físico após a morte, se
deram em função do suicídio como é natural, mas também pelo fato de seu corpo
físico ter sido embalsamado. A esse fato dá-se o nome de distanásia, ou seja, o
prolongado desligamento do espírito. Pelo corpo não ter entrado em estado de
decomposição Santos Dumont permaneceu por tempo longo atado a ele em sofrimento
intenso até que os obiatras, espíritos trabalhadores no processo de desencarne fizeram o desligamento e ele teve
condições de ser recolhido às Cavernas do Sono.
Essa sessão terapêutica foi de extrema
importância para Alberto que apresentou pensamentos e comportamentos renovados.
A partir de então seus tutores puderam iniciar processo terapêutico moralizador
através de orientação espiritual que contribuíram para que novos conceitos de
vida fossem absorvidos por ele. Tomou pleno conhecimento de sua realidade, onde
se encontrava e das atividades diversas que eram realizadas naquela cidade
espiritual. Novas regressões aconteceram sucedidas de sinceros diálogos com
Santos Dumont que abriu seu coração para os amigos em relação às decepções da
vida humana no âmbito profissional e íntimo no que dizia respeito à sua
constituição física inclusive sexual, pois seus órgãos eram de tamanho reduzido
o que lhe impedira ter convívio afetivo sexual.
Dos capítulos vinte e quatro ao vinte e sete
Adamastor, Adelaide e Alberto tem longos diálogos fraternos sobre a vida de
Santos Dumont, seus feitos e desfeitos, sempre com análises moralizadoras. No
capítulo vinte e oito ressurge Heitor para de perto acompanhar o tratamento de
Santos Dumont que já se encontrava renovado. Viera trabalhar com ele em
regressões ao passado reencarnatório anterior ao da personalidade de Alberto
Santos Dumont. Para isso tocou a fronte de Alberto manipulando o magnetismo
hipnotizador conduzindo-o ao século quinze, na França durante a Guerra dos Cem
anos quando nosso amigo envergava a personalidade de Zennon, agigantado e
musculoso ferreiro que em seus fornos produzia as mais requintadas armas
brancas da época. Era procurado por todos os guerreiros. Certo dia, de volta
pra casa encontrou sua aldeia completamente destruída. Sua esposa Constança
morta trazendo ao colo pequena criança também morta. Sua filha deduziu que foi
levada pelos ingleses, os responsáveis pela matança. Trazendo no peito profundo
ódio reconstruiu sua oficina e passou a produzir as mais terríveis armas,
inclusive o canhão, para liquidar com seus inimigos. Agindo assim Zennon
consorciou-se com falanges espirituais altamente desequilibradas e
comprometidas com as guerras. Ao desencarnar viveu por longo tempo em regiões
infelizes a serviço do mal e da guerra até o dia que sinceramente desejou não
mais aquela situação. Ao ter esse pensamento se tornou maleável às preces da
esposa Constança que nunca o esqueceu. No século dezessete retornou o casal às
lutas terrenas. Zennon se dedicaria ao sacerdócio para adquirir novos
conhecimentos e permitir que o evangelho lhe educasse. Constança apoiando o
esposo amado também viria para vida monástica. Ele envergaria a personalidade
do padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão e ela Madre Paula de Sousa. Ambos
serviam à Igreja em Portugal no reinado de D. João V. Bartolomeu era homem
bonito com traços latinos uma vez que era brasileiro. Inteligente e considerado
o padre dos inventos em função de seus projetos com fogos e foguetes. Embora
novo, logo fizera amizade com o rei pelas concessões feitas ao monarca, homem
obsceno e libertino a quem o padre Bartolomeu atendia oferecendo freiras para
suas orgias sexuais. Convencia às religiosas das vantagens que teriam mantendo
um relacionamento com o rei. O próprio Bartolomeu não sendo capaz de manter o
celibato sustenta relacionamento amoroso com Madre Paula e convence as três
irmãs da madre que também eram freiras a terem intimidades com o rei para que seu caminho
ficasse livre no convento. Com isso chegou a ocupar altíssimo cargo e recursos
financeiros na corte portuguesa. Bartolomeu também era homem de poucos recursos
morais mantendo vida sexual com mulheres casadas da corte aproveitando da
respeitabilidade que seu cargo lhe dava. Mas alguém lhe vigiava os passos; era
o cardeal da Cunha, implacável, impiedoso e sincero defensor dos interesses da
Madre Igreja. Da Cunha era o defensor-geral do conselho do rei e inquisidor-mor
do Tribunal do Santo Ofício em Portugal; insatisfeito com as invenções do padre,
convocou um conselho para retaliações a Bartolomeu que enegrecia o nome da
Santa Madre Igreja. O padre inventor foi obrigado a refugiar-se na Holanda.
Outros escândalos surgiram sobre os feitos do padre com o rei até que certo
dia, em função de ciúmes as três freiras
de Sousa, irmãs da madre Paula denunciaram o rei. O cardeal da Cunha mandou
prender a todos envolvidos no escândalo, mas padre Bartolomeu avisado pelo rei
conseguiu fugir. Em trama armada pelo inquisidor-mor da Cunha, madre Paula
matou por envenenamento o padre Bartolomeu e veio a morrer louca na prisão.
Nessa regressão Alberto descobre que Heitor
seu atual benfeitor fora no passado o inquisidor-mor da Cunha.
Heitor induziu Alberto a sono profundo após
valiosos trabalhos; fez sincera prece suplicando a Deus as bênçãos do perdão
sobre eles e miríades de cintilações caíam sobre todos.
No capítulo trinta Heitor esclarece aos
amigos a sua história após as experiências como padre da Cunha, sua decepção
após a morte do corpo por não encontrar-se no céu cercado de honrarias e
glórias não sendo recebido pelo próprio Criador. Relata sobre o período que
ficou nas regiões infelizes da espiritualidade, envolvido por satânicas
entidades à mercê dos desafetos que lhe buscavam para vinganças. Somente teve algum
alívio em suas dores após reencarnar na Bahia como escravo. Devido sua rebeldia
pelo caráter irredutível muito sofreu nessa reencarnação e após sua morte
dedicou-se à causa abolicionista. Mais tarde reconhecendo o mal que causou a
Bartolomeu e Paula solicitou à espiritualidade maior trabalhar pelo
estabelecimento dessas criaturas transformando-os em filhos do coração.
Nesse capítulo, Heitor esclarece sobre a
atuação do artista Leonardo da Vinci apresentando-o como o espírito responsável
pelos trabalhos em função da evolução das máquinas voadores dentre outros
projetos para o orbe. Assim o que Santos Dumont acreditava ser obra sua nada
mais era que a realização dos projetos de Leonardo da Vinci que Dumont
materializou. Na verdade ele fazia parte da equipe que o artista conduzia do
mundo espiritual. Isso muito contribuiu para dar fim ao elevado sentimento de
vaidade que nosso amigo brasileiro ainda guardava em si. A realidade era muito
maior do que ele imaginava.
No capítulo trinta e um além de algumas considerações
sobre os aviões, Alberto e Heitor estreitam os laços de amizade e o tutor
espiritual narra a Alberto da tentativa infrutífera de reencarnação a qual ele
havia sido submetido nos últimos tempos.
O capítulo trinta e dois nos apresenta
situações diferentes e produtivas para nosso amigo Alberto. Era ele um espírito
renovado em todos os aspectos. Conseguia manter melhor relacionamento com
outros espíritos em tratamento na cidade espiritual, não trazia mais as feições
carregadas de orgulho e vaidade; nada reclamava de seu passado. Estava se
submetendo à terapia orientacional que constituía de trabalho e instrução.
Certo dia apresentou interesse em conhecer o setor da cidade Portais do Vale
que tratava os cianoides, espíritos suicidas através do vício do tabagismo.
Eram também chamados de homens-azuis por trazerem essa cor impressa em seus
períspiritos em função do elevado teor de gás carbônico no sangue quando
encarnados.
Era enorme salão que abrigava espíritos
doentes. Os técnicos do setor trabalhavam com máscaras especiais para não se
contaminarem com as exalações nocivas dos pacientes. Adamastor e Adelaide
frequentavam o setor como trabalhadores; aplicavam passes de evacuação
miasmática que drenava os remanescentes vibratórios das toxinas do fumo ainda
presentes no períspirito daquelas criaturas infelizes. Ali Alberto teve aula
presencial a respeito dos prejuízos do fumo para o organismo físico e
perispiritual. Após os passes os enfermos faziam vômitos malcheirosos e
repugnantes após acesso de tosse. Era quadro triste que sensibilizou Alberto e
à semelhança de André Luiz espírito também desencarnado pelo suicídio tão
conhecido pelo livro e filme O Nosso Lar, tomou dos apetrechos de limpeza
pondo-se a higienizar o local. Era sua primeira ação de trabalho na cidade.
Apresentou ele o desejo de colaborar naquele setor e Adamastor encaminhou seu
pedido à direção do hospital que foi aceito de boa vontade. Alberto se tornou
auxiliar da enfermaria de ex-tabagistas.
A partir do capítulo trinta e três a história
de Santos Dumont envolve com as tramas humanas e espirituais relativas à Segunda Guerra
Mundial. Trabalhadores da cidade Portais do Vale foram convocados para
assumirem atividades socorristas na crosta terrestre. Adamastor e Adelaide se
apresentaram ao trabalho juntamente com Alberto que por insistência conseguiu
autorização para fazer parte da equipe. Receberam os devidos treinamentos
porque iriam socorrer almas sofredoras desencarnadas através da guerra
independente de qual nacionalidade pertencessem.
Adamastor narra as organizações do bem no
socorro assim como as organizações das equipes do mundo espiritual inferior na
estimulação dos conflitos bélicos. São esses capítulos verdadeiras aulas de
história, contudo mais profundas que as aulas das escolas terrenas porque foram
acrescidas das informações do mundo espiritual. Alberto participava das
atividades socorristas mas não perdeu a oportunidade de visitar Paris
lembrando-se de seu tempo quando reencarnado. Trazia ainda um pouco de vaidade
e orgulho ao desejar visitar lugares e amigos avaliando até quando ainda era
lembrado pelos humanos. Porém tudo destruído em função da guerra.
Em meio a tanta dor surge Heitor trazendo
consigo Catherine com vestes de freira. Apresentou a ela os amigos, inclusive
Alberto, ambos não se reconhecerem de imediato, porém trocaram significativo
olhar demonstrando terem certeza de se conhecerem. Além dos socorros à guerra
Heitor ali estava para realizar alguns acertos relativos ao seu pretérito
juntamente com Alberto e Catherine. Primeiramente trabalhou junto do cônsul de
Portugal intuindo-o para dar visto de viagem para grande número de judeus
daquele país. Heitor conseguiu esse feito porque o cônsul era seu comparsa de
reencarnação passada quando na personalidade do inquisidor-mor da Cunha. Na
época o amigo executava fielmente cada ordem do líder religioso condenando
grande número de pessoas às fogueiras e prisões da Inquisição. Libertando os
judeus colocou em risco sua posição social e cargo político junto ao governo
daquele país. Foi a maneira de ressarcir seus débitos com as leis divinas em
relação aos atos equivocados do passado.
Heitor antes de seguir viagem para outras
atividades apresenta formalmente Alberto e Catherine. Ambos foram lembrados rapidamente
pelo tutor de suas personagens dos tempos idos. Seu anseio estava realizado;
unir os corações que ele tão bem havia separado quando inquisidor-mor da Cunha.
Foram momentos de emoção e lágrimas sinceras. Parte da história estava
concluída. Despediu-se também de Adamastor e Adelaide agradecendo a
participação significativa de cada um no processo de reabilitação do casal.
A partir daquela data ambos trabalhavam
socorrendo, cuidando dos necessitados e adaptando-se à nova realidade,
envolvidos nos sentimentos antigos a serem reestruturados. Um dia foi conduzido
ao acampamento de nossos amigos um soldado recém desencarnado numa explosão de
granada apresentando-se cego pois fora atingido no rosto. Era brasileiro de
nome Soldado Sampaio. Desejava se tratar logo para voltar ao seu país uma vez
que sua esposa estava grávida. Retorna ao
acampamento Heitor para participar de mais um reencontro. O Soldado Sampaio
recebendo cuidados de Catherine diz que sua voz lhe faz lembrar uma mulher que
conheceu há alguns anos mas que havia falecido. Heitor esclarece ao grupo que
aquele soldado era Abelardo o antigo amante de Catherine que a abandonara
quando ficou grávida; esclarece também que aquele espírito estivera reencarnado
em Portugal no reinado de D. João V e que fora traído por Bartolomeu que
aproveitando de momento de embriaguez do amigo envolveu-se com sua esposa Maria
Coutinho, perturbando a harmonia doméstica do casal. Heitor entregava o Soldado
Sampaio a partir de então aos cuidados de Alberto e Catherine para que fizessem
com ele tudo que receberam de seus amigos espirituais. Esclareceu também que a
lei divina estava se apresentando na vida daquele espírito que abandonara a
antiga amante não a protegendo nem a seu filho. Agora lhe era tirada a
oportunidade de ser pai e à sua esposa que continua sendo Maria Coutinho ficava
a responsabilidade de cuidar sozinha do filho aprendendo o valor da fidelidade.
Juntos os amigos oraram agradecendo a Deus a oportunidade de aprendizado.
Finalmente a guerra termina, os amigos
espirituais puderam retornar à cidade Portais do Vale dando continuidade a suas
tarefas de socorro. Catherine se juntou ao trio e iniciaram os projetos para o
futuro quando o casal reencarnaria formando
novo agrupamento familiar.
Catherine desejava dar socorro à esposa de
Abelardo, assim como às jovens que desviara nos caminhos da prostituição.
Alberto casando-se com ela se comprometia a apoiá-la nos propósitos
espirituais.
No quadragésimo capítulo Alberto recebe
homenagem diretamente do governador da cidade em forma de monumento, coisa
comum naquela cidade. A peça retratava o canhão salvador, último invento de
Santos Dumont que tinha por objetivo lançar boias à beira da praia para quem
estivesse afogando. O monumento recebeu o nome de “Canhão da Paz”. O governador
explica que a homenagem era por seu trabalho em prol da paz. Aqui também vejo
um aspecto confuso na história, pois Adamastor e Adelaide realizaram delicado
trabalho narrado detalhadamente estimulando Alberto a desapegar-se das glórias
terrenas; quando finalmente ele apresenta certa maturidade espiritual, está
empenhado no trabalho em prol do próximo, surge essa homenagem.
O governador agradece a Catherine pelo
trabalho valoroso sendo desenvolvido na cidade espiritual e confere a ela e
Alberto autorização para a partir de então passarem a atuar como assistentes da
colônia deixando a condição de enfermos assistidos.
Heitor surge agora com melhores notícias. A
equipe recebeu autorização para uma excursão de entretenimento e repouso em
esfera elevada, a fim de recompor a exaustão do trabalho.
[1]
Mateus, 18:7
Obs.: Obra estudada no curso Terapia Lumni com as terapeutas Carmem Farage e Bárbara Bastos.
Um comentário:
Eu já tinha lido esse livro há uns seis anos atráz mas vou le-lo novamente.Eu recomendo
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